Para onde vou?
Só sei o nome...
E algumas descrições vagas...
Mas talvez a curiosidade maior não seja sobre as paisagens...
Porque afinal de contas...
"Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." (Antoine de Saint-Exupéry)
Li uma entrevista de um escritor que nunca tinha ouvido falar... Mas a sua entrevista em muitas frases deixou-me a pensar.
Deixo aqui algumas delas. As que gostei mais, porque precisamente me deixaram a pensar...
"A sua obra está toda ela dedicada ao lado maravilhoso da leitura, do acto de ler. A sua paixão pela leitura vem de onde? Nasce-se leitor ou uma pessoa torna-se leitora?
Penso que somos animais leitores. Vimos ao mundo com uma certa consciência de nós próprios e do que nos rodeia e temos a impressão de que tudo nos conta histórias: a paisagem, o rosto dos outros, o céu, em tudo encontramos linguagem. Tentamos desentranhá-la, tentamos lê-la. Nesse sentido, não podemos existir enquanto seres humanos sem a leitura. Inventámos a linguagem escrita, a linguagem oral, para tentarmos comunicar essa experiência do mundo, para nos contarmos histórias e através delas, falar dessa experiência. No meu caso, o conhecimento do mundo passou sempre pelos livros. Tive uma infância um pouco particular: o facto de o meu pai pertencer ao corpo diplomático fez com que viajássemos muito e que eu não tivesse nenhum sítio onde me sentisse em casa. A minha casa estava nos livros. Regressar à noite aos livros que conhecia, abri-los e constatar com imenso alívio que o mesmo conto continuava na mesma página, com a mesma ilustração, dava-me uma certa segurança e um certo sentido do lar."
"Em tudo encontramos linguagem". Há vezes em que gosto imenso da linguagem que encontramos no silêncio. Apenas o silêncio das pessoas que conhecemos bem, conseguimos decifrar. Gosto disso! :)
E por mais que tente ler a vida deste escritor não consigo, mas numa coisa concordo: Há livros que nos fazem sentir em casa.
"Mas nem toda a gente é leitora...
Nem toda a gente é leitora, mas acho que, no fundo, é porque as circunstâncias fazem que não sejamos todos leitores. A possibilidade está em todos nós. O que quero dizer é que suponho que há pessoas que nunca se apaixonam, suponho que há pessoas que nunca viajam, suponho que há pessoas que não têm uma certa experiência do mundo. E da mesma maneira, existem muitas pessoas que não são leitoras. Mas a possibilidade está dentro de nós.
A proporção de leitores numa dada sociedade nunca foi muito grande - seja na Idade Média, seja no Renascimento ou no século XX. Os leitores nunca foram a maioria.
Gostemos ou não, o futuro não será electrónico na mesma?
É muito importante sabermos por que usamos uma coisa. Eu não uso telemóvel, não uso a Internet, não tenho email, mas é uma escolha, não é uma resistência contra algo que me poderia servir. A mim, essas coisas não me servem. Percebo perfeitamente que um cirurgião, que pode ser chamado de urgência, precise do telemóvel, mas a ideia dessa presença constante, dessa comunicação constante, dessa urgência constante, é totalmente falsa. E nós aceitámo-la - mas espero que consigamos reagir. Já chega, já brincámos com todos esses brinquedos e agora vamos pensar um pouco para saber se realmente precisamos deles."
"Eu gostava de ser dessas pessoas positivas que andam pela vida cheias de planos para amanhã
Que dizem frases feitas mas têm suas próprias manias
Que os outras gostam delas porque elas são mesmo assim
Eu gostava que no fundo o mundo fosse simples
Que o dia fosse um barco e a noite fosse um cais
Se tudo fosse sim ou não para mim era mais fácil
E eu não tinha que magoar as pessoas que gosto mais
Eu gostava de ser mais ajuda para a família
De aprender a fazer bolos em casa da minha avó
Porque ela me quer lá e até faz alguns petiscos com a minha mãe a ajudar para que ela não se sinta só
Eu gostava de me lembrar mais de algumas coisas que a vida foi levando em tratamento de choque
De me recordar de cheiros de barulhos e dos discos com que a minha irmã me ensinou a ser alguém do rock
Mas ando pela vida feito placa de auto estrada que ensina o caminho aos outros mas pouco sabe de si
Mas ando pela vida por ver andar meus amigos
E confesso que por vê-los nem me custa andar ai
Eu gostava de ser qualquer coisa mais peculiar
O blog da filipa e os textos que lá diz
Um assunto que tivesse algum efeito nas pessoas
Como os poemas da Ines ou as anedotas do Luis
Eu gostava de me dedicar aos trocadilhos
Que me fazem perder tempo e não fazem rir ninguém
Que há coisas que não são para rir
São só para ter pinta
Já dizia o meu pai e eu só agora entendi bem
Mas ando pela vida cinzentão e esbatido
Sem ter a coragem de convidar gente para dançar
Mas ando pela vida sem ter a lata do Hugo
Que é capaz de fazer tudo para a malta se animar
Eu gostava de saber explicar bem o que sinto
Não mentir como minto quando digo que estou bem
Porque todos temos dores e para cheirar as flores
Desbravamos os caminhos com a ajuda de quem vem
Eu gostava de ser qualquer coisa mais bonita
Fosse o sorriso da Rita fosse o carinho da Rute
Lutar cegamente por aquilo que se acredita
Porque há lutas que se perdem mas precisam que alguém lute
Mas ando pela vida às vezes sem ser sincero
Lá me vai pesando quando é hora de deitar
Finjo ser a pessoa que eu quero que os outros gostem
E acabo a não ser nada que valha a pena gostar
São só bocados de mim
São só bocados de nós
São só bocados que eu enfim deixei ir na minha voz"