sexta-feira, 10 de junho de 2011

"O Dono do mundo"

" (...)
Na montra de uma papelaria estava um pequeno globo terrestre. Pouco maior era do que a palma da mão, mas tem os continentes bem marcados, bem separados pelas águas que não se levantem dúvidas.
(...)

Cidade fora com o mundo no bolso. Da próxima vez que dissessem: «Amérika!Amérika» iam ver.
(...)
Das outras vezes não valia a pena argumentar. Jornalista, branco, a falar inglês, é americano! É espantoso como se consegue dividir e simplificar a sociedade. Nós e os outros. O bem e o mal. A noite e o dia. O preto e o branco e a quantidade de luz e cor que se perde nesta paleta social.
(...)
Um dia mais tarde, numa pequena escola corânica, o Mullah, (...) líder religioso daquela comunidade, inquiria-nos sobre a nossa pátria. Devia ter a nossa idade, ou lá perto. (...) Ouvia-nos com um sorriso nos lábios, mas o rosto abriu-se quando viu o globo. Aquele homem, o homem mais culto do seu lugar, nunca tinha visto a Terra assim representada. (...)
Cansado de ensinar e descodificar versículos, o mestre passava a aluno. (...)
Tinha encontrado um novo amor: a paixão e a curiosidade pelo saber."

Lisboa, 10 de Junho de 2010
José Carlos Ramalho - RTP
do livro "Câmara de reflexão - Uma imagem, mil palavras"


O que somos?... portugueses!
É mais do que "Nós e os outros" - porque se perde luz quando o fazemos...

Ainda neste século, há quem "nunca tinha visto a Terra assim representada." É assustador quando percebemos os degraus que ainda existem...
E ás vezes nem percebemos bem o que é ser português, europeu... Isso só por si já faz tanta diferença... É como se já nascêssemos num outro degrau, que tantas vezes damos como bem adquirido, mas que é bem mais que isso...

Lembro-me de lá longe, depois de horas de viagem de avião me perguntarem com a simplicidade de um sorriso se tinha ido de comboio.. Como se viesse dali do lado... :P

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