“Ele quer como todos os outros que desfilam neste posto de policia, alcançar a Inglaterra. Há-de chegar lá, custe o que custar.”
Encontrei o filme por entre umas conferências realizadas em parceria com a Faculdade de Economia de Coimbra. E sinceramente achei que foi uma ideia GENIAL!!! Pois para além de se tratar de cinema grátis, ainda era dado um livro de apoio ao filme, que me permitiu contextualizar a temática do filme nos dias de hoje e perceber o porquê de ter sido premiado pelo Parlamento Europeu. Alguns excertos deixo de seguida, alguns comentários meus também. J
Testemunhos de voluntários
Jean-Claude Lenoir, membro da Salam (organização que ajuda os clandestinos) já conheceu de tudo: termo de identidade e residência, escutas telefónicas, perseguições. “Tornámo-nos mesmo paranóicos”, consta, em dado momento “mudava de percurso, tinha a obsessão, tinha o medo de ser espancado”. Alojou no seu pavilhão um sem número de clandestinos, utilizou mesmo nomes falsos. “Os policias sabem efectivamente que nunca ganhei um só cêntimo. Mas vejam em que estado estão os clandestinos! Quando os nossos filhos julgarem a história, que ideia é que terão de tudo isto?”
A realidade do filme mostra que AINDA HOJE, há uma história mundial que desconheço. Ainda hoje se sofre por ser estrangeiro, ou por se ser diferente do que se diz “normal”. E não apenas por se sentirem marginalizados, mas sim porque muitas vezes pagam os seus sonhos com a própria vida. Sou sincera, que nem sempre consigo ver quais os estragos que advêm, por um lado de tanta discriminação e por outro lado de tanta indiferença. O filme serviu precisamente para eu perceber isso, tendo sido realizado de forma a demonstrar quais as consequências práticas do artigo L 622-1 do código da estada dos estrangeiros em França.
“Qualquer pessoa que, por ajuda directa ou indirecta, tenha facilitado ou tenha tentado facilitar a entrada, a circulação ou a estada irregular de um estrangeiro em França será punida com prisão por um periodo de cinco anos e uma multa de 30 000 euros. Os deputados socialistas defenderam no ano passado despenalização de qualquer ajuda, quando a salvaguarda da vida ou a integridade fisica do estrangeiro estiver em causa, excepto se esta ajuda der lugar a contrapartidas. Assim, não entraria no âmbito da lei “o simples facto de levar no seu veiculo um estrangeiro qualquer que seja o trajecto” (como acontece no filme).
Outro facto com o qual me confrontei no filme e nunca me tinha apercebido antes foi com a morte dos estrangeiros clandestinos. Morrem muitas vezes sem atingirem os seus destinos ou mesmo atingindo, caso não se legalizem acabam por morrer longe das suas familias. Familias que nunca chegam a saber da sua morte.
“Pois conhecemos o número dos que chegam, mas nunca o dos desaparecidos. Morrem quando estão quase a alcançar o fim pelo qual tinham aceitado tantos sofrimentos e privações. Mortos, sem sepultura, sem nome, solitários e mudos na morte.”
E isto tudo aqui na nossa Europa!!!!
Por isto, é importante não baixar os braços e defender também os direitos humanos. Nesta linha se insere uma posição do papa Bento XVI quando afirma: “Convido todos a olharem olhos nos olhos os seus vizinhos e pessoas próximas e a olharem e verem a sua alma, a sua história e a sua vida e dizer para si: é um homem e Deus ama-o como Deus me ama a mim”. “Temos de ir ao cerne da questão, ao significado e à importância do ser humano”. “
Assim: “Chegar vivo: um milagre. E finalmente contente: uma raridade”
Outra delicia do filme é a ténue ironia que se encontra subjacente à banda sonora do mesmo, pois o filme é francês, mas a banda sonora foi realizada pela orquestra de Roma. Onde está a ironia? Pois bem, é que para além de França também Itália adoptou este tipo de políticas “anti-estrangeiros”.
No entanto, e para acabar em bem. O amor não podia faltar e também ele atravessa todo o filme....
“O amor, valor universal acima de qualquer outro encontra-se simbolizado no anel, que passa de gerações em gerações, que é entregue a Bilal e que é depois entregue a Minar em sinal do amor deste. E se virmos bem é do amor de Bilal e de Simon que fala o filme. Do amor que luta contra tudo e todos...”
Professor da Faculdade de Letras de Coimbra
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