sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O silêncio das palavras

“De repente fiquei a saber: é assim que eu quero escrever. Com um espaço imenso à volta das palavras. Detesto muitas palavras. Quereria escrever somente palavras organicamente inseridas num grande silêncio, daquelas cuja única utilidade é dominar o silêncio e rasgá-lo.

Na realidade as palavras devem acentuar o silêncio... Detesto uma acumulação de palavras.

Na realidade pode usar-se poucas palavras para nomear as grandes coisas que importam na vida. Se algum dia chegar a escrever – o quê, sinceramente? – gostaria então de pincelar algumas palavras sobre um fundo mudo. E há-de ser mais dificil de reproduzir e animar esse silêncio e essa mudez do que achar as palavras.

O importante será a relação justa entre palavras e silêncio, um silêncio no qual acontece mais do que em todas as palavras que uma pessoa consiga reunir... Não se trata de um silêncio vago e inantigivel, esse silêncio terá também de ter os seus próprios contornos definidos e a sua própria forma.





E, por conseguinte, as palavras deveriam servir somente para dar forma e delineação ao silêncio.”

Etty Hillesum - Diário

1 comentários:

No Coração de Deus disse...

No silêncio(do coração)acolho as palavras, o desafio...e agradeço-Lhe por seres um ponto de Luz.

que o sal das lágrimas(partilhadas)tempere com renovada alegria a tua esperança.

abraço-te demoradamente
o mano-padre!

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