sábado, 13 de março de 2010

Morte 2 : A morte vista pelo profissional de saúde...





Começo este post com palavras do prefácio do livro, que dizem exactamente aquilo que eu acho sobre ele:


“No meu ponto de vista, é tão importante o rosto da medicina descrito neste livro como os grandes progressos cientificos da actualidade. (...)

O livro é um pequeno «Tratado sobre a Humanização da Saúde», sobre a «arte de cuidar», que deveria ser oferecido, pelo menos como «cadeira de opção», a todas as pessoas que se propõem trabalhar no campo da saúde, seja qual for o ramo. (...) As cartas são simples , este livro mais não é do que um pouco de vida observada à lupa.”


E aqui fica também um post sobre a morte. Este tema tão dificl de tratar, e por vezes tão dificil de enfrentar:


“Querido Deus:

Bem hoje não posso sequer dizer-te querido; só Deus!!!... Dói-me a alma de pena pela doença desta criança, pela morte, pelo sofrimento dos seus, por tudo o que temos passado nestes dias.


Não entendo nada. E estou furiosa porque há coisas na vida que me escapam, que não controlo e me desassossegam por completo. Estou muito zangada contigo, com a medicina, com a vida, com tudo…


Na realidade, foi um caso rodeado de ternura de todo o hospital. A criança era maravilhosa, tinha quatro anos de expansiva vitalidade e graça, mas não aguentou a doença, que era muito mais forte do que ela.


Estou zangada, apesar de os pais terem reagido maravilhosamente. Todos estávamos a par do problema, a criança entrara no coração de todos nós, e quando tudo terminou, sentíamo-nos muito unidos. Fomos como que uma grande equipa de salvamento que, desta vez, falhou. (Bem, Senhor, eu meto-me nesta equipa, mas bem sabes que sou apenas mulher das limpezas; mas entre vómitos e limpezas de emergência, ando sempre no meio dela e tenho oportunidade de amar um pouco). Não pude deixar de ir ao funeral e venho encantada por ter conhecido esta família.


Com que fortaleza aceitaram a morte! Celebrámos a vida da criança. Ali, toda a gente falava de carinho, de vida, de ressurreição… Foi do que mais gostei, pois fala-se pouco disso e a verdade é que estou certa de que nos juntaremos todos contigo num abraço comum (…)


Recordaram que tu queres que sejamos felizes e que, por isso, nos ajudas na retaguarda, pondo-nos em contacto com pessoas que nos tornem fácil o sofrimento e o caminho da vida, e que é preciso sermos dessas, sempre atentas a dar uma mãozinha, a adivinhar o que se passa com o outro.


Peço-te Deus, que nesta noite abraces todas essas pessoas, que as ajudes a que sofram poucochinho e que aproveitem a ocasião para se amarem muito umas as outras. (…)


Isto da morte, custa, custa muitíssimo. Enquanto faço limpezas, vejo quanto sofrem os médicos e as enfermeiras quando não podem solucionar os casos, quando alguém não tem remédio. (…)


Entretanto, tu deves andar tranquilo com o teu livro de altas e baixas; mas tens de reconhecer que o mundo anda muito mal. Que me dizes da quantidade de gente que morre no terceiro mundo enquanto nós andamos por aqui a seguir regimes de emagrecimento e a viver cheios de tudo? (…)


Esta noite, quando tiveres de pôr uma cadeira alta à tua mesa redonda para o Paulo comer, já que, com os seus quatro anos, não lhe chega, lembra-te de abraçar com força os seus, para que a sua ausência lhes custe o menos possível.”


E por fim, uma oração por todos os que se encontram envolvidos,
nisto a que chamamos de cuidados paliativos


Querido Deus:

Esta noite estou confusa, admirada, agradecida, dolorida... No piso de oncologia infantil parte-se-me o coração. Hoje quero pôr nas tuas mãos as muitas familias que sofrem a doença de um filho, mas sobretudo os profissionais que as rodeiam, todas essas pessoas que passam tormentos para facilitarem a agonia à criança e aos seus.

A psicóloga do piso esteve a explicar-me como acompanha os doentes terminais, a importância que tem a primeira impressão, a decoração, a atitude daqueles que lhes prestam cuidados, as cores da roupa que usam, as palavras que empregam para falar da doença e para exteriorizar sentimentos. (...)”
Mari Patxi Ayerra in “Querido Deus… - Cartas da Esperanza”

Acho que este é um tema que me diz muito... Talvez porque tenha marcado a minha vida a determinada altura...
Mas acho que ainda tenho muito que pensar sobre isto.  O que é a morte? Como é a morte? O que há para além da morte? Será que nos perdemos depois da morte?  Ou será que já andamos perdidos quando pensamos assim?

Pode ser que vos ajude a pensar sobre isto, assim como há quem me ajude a mim também. ;)



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