Começa com um excerto que me traz tantas lembranças... Tantas saudades!
“A conversa após jantar falava da gente que vivia ali, dos missionários das outras missões e do trabalho ainda por fazer... (...)
Na estação seca chove todos os dias, não há estradas de asfalto neste lugar, a vegetação é luxuriante, tropical, uma temperatura sempre a rondar os 30 graus e muito húmido, as crianças quando ouvem os carros, correm junto das picadas a gritar. (...) a sorrir e a dizer adeus (...)
O luar ilumina o pátio da missão onde os pirilampos pirilampam como faróis de costa a indicar abrigos, portos à deriva é o que são, intermitentes sinais, códigos genéticos perdidos netse lugar com sentido que nos fazem questionar a Vida de uns e de outros.”
Do livro “Câmara de Reflexão – uma imagem, mil palavras”
Saboreei este fim de semana uma importante, senão das mais importantes lições de vida, senti-a!
“Diante do sofrimento humano, na maior parte dos casos, as palavras são sempre demais. Aproximarmo-nos do sofrimento, o nosso e dos outros, implica fazê-lo em silêncio, com um coração humilde, um coração de irmão. O sofrimento humano é “um terreno no qual devemos caminhar descalços” e diante do qual não podemos virar a cara ou simplesmente fechar o coração.”
De “Cartas p’ra Missão” – Grupo missionário JP2
Aqui bem perto, mais perto até do que julgava (como muitas vezes acabamos por perceber) descalcei-me e encontrei este silêncio, fiz parte deste silêncio. Um silêncio que não se cala, mas que escuta e vê.
Um silêncio que partilha esses olhos em que as lágrimas não se escondem, nem as lembranças que se preferiam esquecidas.
Um silêncio que muitas vezes acompanha a escuridão.
Mas nem sempre é preciso ver, para saber que estás ai...
Zero a zero, não me espanta o impasse
Se você quer, escondo o medo sem mostrar como o faço
No entanto amargo a cada som que não me sai, que adormeço
Tenho cara de quem morde mas apenas sou o que mereço
Uma oração pra perder o meu embaraço
Em hora sã hei-de por termo ao que só me traz cansaço
A cada cara à minha volta que me fita só que eu não posso ver
Que tem a fé num perfeito que eu não sei fazer
E eu sei de mais ou menos cem
Quiçá eu não apareço hoje....
Quero ficar bem a sós
Amuada no meu canto e a aquecer a voz.
Eu sei que é fácil de montar o aparato da menina que é culta
Mas também, sorrir sai mais barato que cuspir pensamentos à solta
E olha quem, tem a fome da sinceridade ao menos não te dei a volta
E eu não volto a jogar à cabra-cega com usted
Nunca sei porquê o maltrato é um unguento
Que sem ninguém ver vai guardando cimento
A cada cara à minha volta vou lhe dizer só que eu não posso mais...
Quero sedar o meu som confinar-me a afinar em silêncio
Eu sei que é fácil de montar o aparato da menina que é esperta
Mas também, fugir pra ti faz parte de investir na pessoa certa
E olha quem vem agora pra ficar é que eu ao menos não deixei aberta
A minha porta a ver quanto tempo sobra pra quem vem
A minha porta a ver quanto tempo sobra
(...)
E eu não volto a jogar à cabra-cega...
"Como acontece nos melhores intérpretes e autores, o que importa é o que não é dito, são as entrelinhas, o silêncio que Márcia deixa respirar e que é onde está tudo o que não é possível dizer através das grades das palavras. Seja apenas acompanhada pela viola ou com arranjos que juntam mais instrumentos, como acontece no seu óptimo álbum de estreia, esse silêncio – essa verdade - está sempre presente. E ouve-se bem, e tantas vezes é igual a nós."