Eu e os meus irmãos.
O Miguel e a Rita.
Lembro-me da tarde e daquela luz espelhada nas casas de pedra.
Eu subia e descia e voltava a subir e descer cada vez mais reguila. As escadas pequenas à minha medida, mas ingremes que obrigavam a grandes ginásticas e eu de vestido e descalça a desafiar uma queda.
Lembro-me das cores, preto, cinzento e castanho e dos traços de cimento a dividir as pedras que pisava.
Brincávamos, fazíamos das folhas e paus que por ali andavam bonecos com braços e pernas. Bem trajados a rigor, que afinal nesse dia havia música por perto...
E depois com a magia das nossas mãos transformávamos um boneco num jogo do galo. Não tinhamos cruzes, mas tinhamos dois tipos de folhas pequeninas, umas verdes e outras castanhas que eram exactamente as necessárias para o jogo que ia preencher as nossas horas.
Jogávamos ao galo a ouvir música clássica, daquelas de filme e no entanto, parecia que estávamos distante desta vida normal... Miúdos de ar loiro e reguila ouviam a música e gritavam bem alto alegres: - Eu conheço esta música! - Eu conheço esta música. Não há muitos mundos destes pois não? Um pai hippie com um filho de cinco anos com um ouvido afinado. Há imagens que não se esquecem, nem que seja pela irrealidade que parecem transportar.
Lembro-me dessa música... Flautas jovens, que em si têm já a eternidade da arte.
A eternidade desta infância.
O som destas memórias talvez seja o que precisamente me leva até elas de volta.
E no fim de contas só os nomes inventei, por já não me lembrar que nome vos dei.
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