segunda-feira, 8 de março de 2010

Emancipação feminina e O Amor


Porque isto de amores e desamores é mesmo complicado...

Muitas vezes não percebemos porque começam, outras vezes não percebemos porque acabam...

Mas hoje resolvi deixar aqui uns excertos de um livro que li e que me fizeram pensar. Estes textos foram escritos em 1941... Muito tempo não? Mas afinal são intemporais...

Acho que hoje em dia, ainda andamos um bocadinho perdidos do que é mesmo essencial.



 “Ele diz que o amor a todos é mais belo que o amor a uma só pessoa. Porque o amor a uma só pessoa é, na realidade, somente amor a si mesmo.

Ele é um homem maduro de 55 anos e encontra-se no estádio do amor a todos, depois de inicialmente ter amado uma vida inteira muitos alguns. Eu sou uma mulherzinha de 27 anos e também carrego intensamente comigo o amor a toda a humanidade, mas ainda assim pergunto-me se não irei andar sempre à procura de um determinado homem. E pergunto-me até que ponto isso será uma restrição, um limite à mulher... (ainda não estou pronta para a síntese).
... a mulher está sempre à procura do tal homem ao qual pode transmitir todo o seu conhecimento e calor e amor e poder criador. Ela procura o homem e não a humanidade.

Não é lá muito simples, essa questão feminina. Às vezes, quando vou na rua e vejo uma mulher bonita, cuidada, completamente feminina, um pouco pateta, fico vacilante. Então sinto o meu cérebro, as minhas lutas, o meu sofrimento, como coisas que me oprimem, algo de feio, pouco feminino, e nesses momentos queria somente ser bonita e tola, um brinquedo desejado por um homem. Coisa curiosa, querer ser-se sempre desejada por um homem, ser isso para nós o mais alto padrão de afirmação de que somos mulheres, embora isso seja, vendo bem, muito primitivo. Sentimentos de amizade, respeito pela nossa personalidade, amor por nós enquanto seres, tudo isso é muito bonito, mas em última instância não queremos que o homem nos deseje como mulher? É ainda quase impossível para mim escrever tudo aquilo que aqui quero dizer, é extremamente complicado, mas é algo de essencial e é importante que o consiga.

Talvez a genuina, interior emancipação feminina ainda tenha que começar...”

Etty Hillesum - Diário


“A um determinado momento uma pessoa reencontra-se às voltas com a mesma questão: a compulsão que tens em ti ou essa ficção ou fantasia, como lhe queiras chamar, de querer possuir uma só pessoa por uma vida inteira, tens de a estilhaçar em mil pedaços.  Esse absoluto tem de ser pulverizado dentro de ti. E em seguida não ficar com a ideia de que a pessoa fica mais pobre com isso, mas justamente mais rica. Bastante mais difícil, mas com mais nuances. Aceitar os pontos altos e baixos nas relações, e encarar isso como positivo e não como entristecedor. O não querer possuir  um outro, o que não significa renunciar ao outro. Deixar o outro em total liberdade, interiormente também, sem que contudo tal signifique resignação. Começo agora a identificar a natureza da minha paixão no meu relacionamento com o Max. Era a dúvida, porque sentias que o outro era inalcançável em última instância e isso atiçava-te ainda mais. Mas isso aconteceu provavelmente porque querias alcançar o outro de modo errado. De modo demasiado absoluto. E o absoluto não existe. Que a vida e as relações humanas são infinitamente matizadas, que não há em parte alguma algo absoluto ou objectivamente válido, isso também eu sei, mas este conhecimento deve estar também no sangue, em ti mesma, não só na cabeça, mas deve também ser vivido...”

Etty Hillesum - Diário



Quanto a este último excerto acho que ainda há muito que se lhe diga... Isto de deixar o outro ser completamente livre é ... tentador. Mas será que é isso que fazemos? Porque às vezes parece-me mesmo que não...


Há uns anos alguém me dizia, que não gostava nada quando a mãe mexia no telemovel do pai sem lhe dizer nada. Ou quando telefonavam para o pai e a mãe logo ia ver quem era. E quando a mãe falava com o pai ao telefone, não era a simples pergunta “tudo bem?” ou “como estás?” que surgia em primeiro, mas antes o “onde estás?”, “com quem é que estás?”. Tudo como se de um controlo se tratasse... e o engraçado é que agora vejo esse alguém, a fazer algumas dessas coisas...


Não sei se sou eu que vejo o mundo através de óculos cor de rosa, ou se afinal sou eu que tenho razão, quando acho que uma relação tem que ter como principal pilar a CONFIANÇA. Pelo menos para mim não faz qualquer sentido, andar toda uma vida a fazer de policia, a ver com quem anda a pessoa de quem gosto, por onde anda... Isso não me interessa! O que interessa é que por onde ela andar, e com quem ela andar, que eu realmente ande com ela nessa caixinha que bate e nos dá vida... 

Quanto ao SER MULHER... bem adoro a frase do primeiro excerto:  "Talvez a genuina, interior emancipação feminina ainda tenha que começar..." ;)

Um grande beijo a todas as mulheres, que apesar de serem grandes, não precisam de se sentir superiores aos homens. Porque ai está precisamente a sua grandeza!

 



1 comentários:

Longe do Mundo... disse...

Obrigada pelo teu sorriso :D
sabes que as cartas de amor sao sempre bonitas qando escritas com alma, mas e isso mesmo qe e uma carta de amor, algo qe demonstre o qe sentes e por qem sentes.
Se nao fossem estas love letters, as vezes a vida nao seria tao doce :)

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