quinta-feira, 8 de março de 2012

"Lori tirou-me o desenho das mãos, segurou-o na sua frente e, com um ar pensativo, examinou-o.
- Sabes em que estava a pensar enquanto o fazia?
- O que era?
- Bem, estava a pensar que não era tão bom como uma imagem autêntica. Sabes como é, como uma fotografia. Como uma revista ou algo parecido. E queria mesmo que ficasse perfeito e sem erros.
(...)
- Ah Lor. Não digas isso. É lindo. Melhor do que qualquer fotografia velha.
- Não, não. Não é isso que quero dizer. (...) Mas sabes uma coisa em que estava a pensar, Tor? (...) O que eu estava a pensar era: é perfeito. Não a parte que vemos, mas o que está dentro de nós. Na minha cabeça o pássaro era perfeito.
Virou-se para olhar para mim e esboçou um sorriso.
- E isso para mim é o bastante para gostar deste desenho, mesmo que não seja realmente perfeito. Porque... bem, porque sei que podia ser... - afirmou e, virando-se para mim, perguntou: - Sabes o que quero dizer?
(...)
- És uma sonhadora, Lor.
Olhou-me fixamente, com aqueles olhos escuros e redondos e para além de todos os sorrisos. Não disse nada.
- É bom ser sonhador.

O desenho do pássaro azul nunca foi afixado no nosso jornal de parede. Levei-o comigo para casa. Afixei-o sobre a minha cama para me fazer lembrar, pelo menos duas vezes por dia da beleza num mundo imperfeito. "

em "Os filhos do afecto" de Torey Hayden

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