domingo, 20 de março de 2011

Soa-me a familiar



"Os grupos continuam a moldar os seus gostos e apetências, sobretudo na área da música, que é hoje talvez um dos mais importantes fatores de sociabilidade, explica Vítor Sérgio Ferreira. "Ter conhecimentos sobre música é hoje uma exigência social. É importante gostar de uma coisa e não de outra e saber fundamentar as escolhas. E isto só acontece com a música." E porque o consumo de música é "essencialmente emocional" e "para ser experimentado", o concerto ao vivo é um dos formatos preferidos.
A tecnologia potencia o desejo de contacto direto, tanto com os amigos como com os artistas. "Já não precisam de um telefone fixo para combinar um concerto, nem sequer do telemóvel. Usam o Facebook e partilham ficheiros do YouTube ou os álbuns de que fizeram 'download' para convencerem o grupo de que aquele é o concerto a não perder."


"Os jovens (...) são, sem dúvida, os portugueses que mais leem", garante Soares Neves, baseando-se no Inquérito à Leitura de 2006/2007, do OAC, que não distingue as leituras técnicas (as que são feitas para uma cadeira da faculdade, por exemplo) das de lazer (ficção). Mas são também os que mais ouvem música, sem excluir o cinema, o teatro e até a dança (esta última mais raramente). "São autênticos omnívoros culturais", diz este sociólogo de 52 anos. "São ecléticos e cumulativos. E se, assim, parecem pouco coerentes nos seus gostos isso é uma marca da contemporaneidade", acrescenta Vítor Sérgio Ferreira, do Observatório da Juventude. "É difícil ter uma perspetiva histórica sem ser impressionista, porque os dados são muito escassos. Mas creio que a cultura ganhou público em praticamente todas as áreas desde 1990. E hoje já não encontramos discursos tão dramatizados como há 20 anos atrás sobre a falta de público jovem no teatro ou no cinema."
Para estes jovens, a rapidez é determinante, assim como a diversidade de escolhas, a liberdade do acesso, o contacto direto com os amigos, a experiência do concerto.
A vida deles, diz Carlos Fortuna, é um somatório de "agoras", em que o tempo é permanentemente interrompido pelo "email", os SMS e o Facebook. Mas é pela plataforma digital que passa grande parte dos seus consumos culturais. "A cultura está-lhes no ADN, marca os seus dias, os seus territórios, no computador e na cidade."

Lucinda Canelas
In Público (Ípsilon), 4.3.2011
10.03.11 

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