terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

“- Adeus – disse para a flor.
Mas ela nao lhe respondeu.
- Adeus – repetiu o principezinho.
A flor tossiu. Mas nao era por causa da constipação.
- Fui muito parva – acabou por dizer. – Desculpa. Tenta ser feliz.
Ficou espantado por ela não se pôr com recriminações. ...
- Porquê essa admiração? É óbvio que eu gosto de ti – disse a flor- Por culpa minha nunca o soubeste. Mas, hoje, isso já não tem importância nenhuma. Olha, tu também foste tão parvo como eu. Agora, tenta ser feliz... e deixa essa redoma em paz. Não preciso dela.
- E o vento?
- Não estou tão constipada como isso... o fresco da noite só me pode fazer bem. Sou uma flor!
- E os bichos?
- Duas ou três lagartas terei mesmo de suportar para ficar a conhecer as borboletas. Dizem que são bonitas! E que outras visitas podem aparecer por cá? Tu, tu hás-de estar longe. E dos bichos maiores não tenho nada a temer. Afinal, para que quero eu as minhas garras?
Mais uma vez exibia ingenuamente os quatro espinhos.”


“«Cativar» quer dizer o quê?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer «criar laços»...
- ... por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro (...)
 – Sabes há uma certa flor... tenho a impressão que ela me cativou...
(...)
Mas voltou (a raposa) a insistir na mesma ideia:
- Se tu me cativares, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, repara! Estás a ver aqueles campos de trigo ali adiante? (...) os campos de trigo não me fazem lembrar nada. (...) Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando tu me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! O trigo é dourado e há-de fazer-me lembrar de ti (...)
- Se fazes favor... Cativa-me! – acabou finalmente por pedir.
- Eu bem gostava – respondeu o principezinho, - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas a conhecer...
- Só conhecemos o que cativamos (...)
- Tens de ter muita paciência. Primeiro, sentas-te longe de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas podes-te sentar cada dia um bocadinho mais perto... (...)
- Se vieres às quatro horas, às três, ja eu começo a estar feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sinto. Às quatro em ponto hei-de estar toda agitada e toda inquieta: fico a conhecer o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca vou saber a que horas hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...”

Antoine De Saint-Exupery  "O Principezinho"






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