terça-feira, 12 de outubro de 2010

O peso das malas que levei e trouxe...

Até agora tenho dificuldade em escrever sobre o meu mês "longe do meu mundo", acho que ainda agora nem metade do que vi consegui absorver, consegui reviver e encontrar em mim um espacinho para cada coisa. Acho que esta minha casa ainda está à espera de arrumações.

Mas por ironia ou não, encontrei um texto de um padre com sotaque açucarado que me disse muito e que diz muito de tudo o que vai nesta minha casinha.
E assim aqui o deixo...

"O perigo da viagem mora nas malas.
Elas podem nos impedir de apreciar a beleza que nos espera.

Experimento na carne a verdade das palavras, mas não aprendo.

Minhas malas são sempre superiores às minhas necessidades.

É por isso que minhas partidas e chegadas são mais penosas do que deveriam.

Ando pensando sobre as malas que levamos...
Elas são expressões dos nossos medos.
Elas representam nossas inseguranças.

Olho para o viajante com suas imensas bagagens e fico curioso
para saber o que há dentro das estruturas etiquetadas.
Tudo o que ele leva está diretamente ligado ao medo de necessitar.

Roupas diversas; de frio, de calor o clima pode mudar a qualquer momento!
Remédios, segredos, livros, chinelos, guarda-chuva - e se chover?
Cremes, sabonetes, ferro - elétrico - isso mesmo!
Microondas? - Comunique-me, por favor, se alguém já ousou levar.

O fato é que elas representam nossas inseguranças.

Digo por mim. Sempre que saio de casa levo comigo a pretensão de deslocar o meu mundo.
Tenho medo do que vou enfrentar.

Quero fazer caber no pequeno espaço a totalidade dos meus significados.
As justificativas são racionais.

Correspondem às regras do bom senso, preocupações naturais para quem não gosta de viver privações.

Nós nos justificamos.
Posso precisar disso, porque preciso daquilo...

Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas.

Excedem os tamanhos permitidos.
Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?

As perguntas são muitas...

E se eu tiver vontade de ouvir aquela música?
E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?

Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para a minha partida e vou.

De vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então,
inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.

É nessa hora que descubro que
partir é a experiência inevitável
de sofrer ausências.

E nisso mora o encanto da viagem.
Viajar é descobrir o mundo que não temos.

É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.

A partida nos abre os olhos para o que deixamos.
A distância nos permite mensurar os espaços deixados.

Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam
quem somos,
o que amamos e
o que é essencial para que a gente continue sendo.

Por isso é tão necessário, partir, sair na direção das realidades que nos ausentam.

Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias...


Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas
que de alguma maneira pode nos humanizar.

Andar na direção do outro é também fazer uma viagem.
Mas não leve muita coisa, não tenha medo das ausências que sentirá.

Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para
enxergar de um jeito novo o território que é seu.

Não leve os seus pesos.
Eles não lhes permitirão encontrar o outro.

Viaje leve, leve, bem leve.

Mas se leve."

(Padre Fábio de Melo)

2 comentários:

Ana Neves disse...

Sublime!!
Este texto reflecte bem as nossas pequenas viagens e principalmente a nossa grande viagem, o nosso percuso neste caminho que é a Vida. É neste percurso que nos apercebemos que as nossas malas são pequenas para levarmos tudo aquilo que queremos, principalmente as pessoas que mais gostamos! É nesse momento que fazemos pequenas escalas, pausas, mais ou menos temporárias recomeçando o nosso caminho na certeza de que apesar de não levarmos tudo, levamos as recordações dos bons e dos maus momentos e com eles todas as apredizagens que realizámos... Estes pequenos utensílios não há alfandega que nos impeça de levar!

Beijinhos

:)

pontodeluz disse...

uou!
Não sei do que gosto mais...
Se do post se do comentário da minha sister.
O que vale é que a ela não preciso de trazer em malas!
Já a tenho no meu guarda-fatos. :)

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